quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A BRINCADEIRA DE REISADO NO CICLO NATALINO


Francisco Artur Pinheiro Alves
Do Curso de História da UECE
artur.uece@yahoo.com.br

Segundo o Dicionário do Folclore Brasileiro de Luis da Câmara Cascudo, reisado é a denominação erudita para os grupos que cantam e dançam na véspera do dia de Reis ( 6 de janeiro) ... O reisado tem sua origem na Idade Média. O auto popular profano-religioso, pertence ao ciclo natalino, é formado por grupos de músicos, cantadores e dançadores que vão de porta em porta anunciara chegada do Messias e homenagear os três Reis Magos. O reisado pode ser apenas cantoria como também possuir uma série de pequenos atos encadeados ou não (Cascudo, 2001: 581).
Estamos vivenciando exatamente o ciclo natalino e apesar da grande mudança no comportamento das pessoas influenciadas pela ideologia consumista do Capitalismo, que transformou o natal em uma festa predominantemente consumista, ainda existem grupos de reisado que resistem às estas transformações. A prova disso é a reportagem do Jornal O POVO, sobre o grupo Cordão Coroá que se apresentou no Benfica até a véspera de natal e no dia 6 de janeiro fará uma grande apresentação, com vários mestres e grupos de reisado tradicionais, na Reitoria da UFC em Fortaleza.
Sabe-se também que no Cariri, sobretudo em Juazeiro, há vários grupos de reisado e que se apresentam neste período do ano. Conversando com pessoas mais velhas, elas são unânimes em afirmar que quando criança, assistiam e até participavam de grupos de reisado em seu bairro, ou na localidade em que viviam. O reisado fazia parte dos festejos natalinos, das comunidades rurais e urbanas.. Via de regra estas pessoas guardam na memória, fragmentos de músicas e versos que cantavam e recitavam nas brincadeiras de reisado.
Particularmente, a partir de 2005, temos acompanhado as apresentações do Mestre da Cultura Sebastião Chicute, em Capistrano e temos constatado a vitalidade destas pessoas que brincam reisado, muitos acima dos 70 anos. De assistente passamos a pesquisador e produzimos um estudo sobre o Mestre da Cultura Sebastião Chicute, onde fazemos uma análise da sua atividade artística na perspectiva da educação patrimonial imaterial.O resultado de tal pesquisa foi nossa tese de doutorado defendida junta à Universidad Autônoma de Asunción. Um dos capítulos da tese é exatamente o reisado, posto que além de mestre de reis, Sebastião Chicute é também cordelista.
E para contribuir com a continuidade da brincadeira de reisado na região, promovemos todos os anos, no final de semana mais próximo do dia de reis, uma terreirada em uma pequena casa que possuímos na localidade de Carqueija dos Alves em Capistrano, e que abriga um embrião de um ecomuseu rural.
Este ano de 2012, no que pese a saúde do Mestre Sebastião Chicute não permitir que ele faça muito esforço sobretudo em pé, dançando, está garantida a apresentação do grupo no dia 07 de janeiro. Estaremos lá: Sebastião Chicute, Luzia sua companheira, Milagre o dançador da burrinha, Capitu, Luis Silva, Sr. Manuel, caboclos de reis, Luis Duarte, de 85 anos, na sanfona, Adriano no papel da vitalina, Pirulito como soldado, dentre outros que acompanham o mestre Chicute em seu tradicional Reisado.
Assim, na teoria e na prática, estamos contribuindo para a preservação deste auto de natal, de caráter popular, que há centenas de anos vem sendo transmitido de geração para geração, se renovando, se readaptando aos tempos e lugares, mas preservando o seu núcleo central que é a homenagem aos Reis Magos que visitaram o Menino Jesus em sua manjedoura, conforme está descrito pelo evangelista São Mateus.

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